18 Mostra de Cinema de Tiradentes

 

18ª Mostra Tiradentes

JANELAS PARA O MUNDO

O Cinema sem Fronteiras inaugura sua temporada em 2015 apresentando o maior evento do cinema brasileiro contemporâneo – a Mostra de Cinema de Tiradentes –  e o primeiro evento relevante do ano abrindo os trabalhos do cinema nacional e que chega a sua 18ª edição de 23 a 31 de janeiro de 2015 apresentando ao público a diversidade da produção cinematográfica brasileira: Uma trajetória rica e abrangente que ocupa espaço de destaque no centro da história do audiovisual e no circuito de festivais realizados no Brasil.

Consolidada como a maior plataforma de lançamento do cinema brasileiro independente, a Mostra de Cinema de Tiradentes inaugura o calendário audiovisual brasileiro apresentando ao público mais de 100 filmes brasileiros em pré-estreias mundiais e nacionais e, ainda, reúne todas as manifestações da arte no cenário da barroca Tiradentes. Homenagens, oficinas, debates, seminário, exposições, lançamento de livros, teatro de rua, shows musicais, performance, encontros e diálogos, atrações artísticas numa programação cultural abrangente oferecida gratuitamente ao público.

Sedia, pelo terceiro ano consecutivo, o Prêmio Itamaraty para o melhor longa da Mostra Aurora – eleito pelo Júri da Crítica – segmento exclusivo da programação para diretores em início de percurso em longa-metragem – um reconhecimento ao surgimento e presença de novos talentos cinematográficos brasileiros.

Nos seus 18 anos de existência, a Mostra Tiradentes cresceu e se desenvolveu gradativamente. Apostou na inovação, apresentou uma nova geração de realizadores que têm propósitos instigantes e criativos, que fazem cinema com vontade própria, com vigor.

A pluralidade de conteúdos audiovisuais advindos das mais diversas fontes expressa a programação desta edição que reafirma o compromisso cm o cinema brasileiro, com a sociedade que o origina, com as representatividades políticas, com as mudanças, influências e tendências do audiovisual.

Tema Central

QUAL O LUGAR DO CINEMA HOJE?

O CINEMA EXIGENTE E A DISPERSÃO CONTEMPORÂNEA

Qual o lugar na expansão das telas de diferentes dimensões e com diferentes funções no século XXI?
Qual o lugar do ritual cinematográfico, individual e coletivo, em um momento de dispersões cognitivas, com espectadores ansiosos, de olhos em suas telas pessoais à mão, com dificuldade de concentração em uma só superfície?
Qual o lugar do cinema diante de tantas telas de computadores e de televisores, muitas vezes empregado como superfície onde estão as imagens dos filmes?

O espectador contemporâneo passa menos horas vendo cinema no cinema, no escuro, na tela grande, em grupo,  do que vendo cinema no notebook ou na TV.

O cinema acabou ou está para acabar?
A resposta afirmativa a essa pergunta está na ponta da língua, desde pelo menos os anos 80, dos profetas otimistas do apocalipse audiovisual, com suas lógicas fluidas e de rigor flexível, que condenam o cinema de autor ou cinema de planilhas a um lugar retrógrado.

Qual o lugar do cinema em 2015, quando qualquer um evidencia não a aliança do homem com as máquinas, mas a fusão entre o humano, as câmeras e os dispositivos de compartilhamento?

As câmeras não são apenas câmeras, mas também projetores e tela, além de telefones, páginas de livros e jornais. Um ser-dispositivo já não pode estar sem sua máquina multifuncional. Depende dela para quase tudo. Sua vivência tecnológica não se separa de sua respiração e de seu olhar. Isso mudou uma forma de percepção da vida e, na vida, do cinema como era feito e visto em suas mudanças no século XX.

O historiador Jonathan Cracry vê na primeira metade do século XIX um período de hiper estímulos, com consequentes mudanças no modo de homens e mulheres perceberem seu entorno e agirem nele , com perda da capacidade de concentração e com treinamentos para se manter a atenção na esfera do trabalho.

Muitas de suas afirmações e diagnósticos sobre 150/200 anos atrás parece variação de nossos dias correntes. A contemporaneidade digital e interativa também tem sua ampla carga de hiper estímulos dispersantes no campo da sensorialidade. Há uma cultura mundial da ênfase, do impacto, da agilidade, do fantástico e da velocidade, um modo de criar e de sentir pautada por noções variadas de espetáculo sensacionalista.

Também vivemos como no século XIX uma epidemia de transtornos de atenção, de dificuldade de concentração, de ansiedades descontroladas, de uma cultura farmacológica, de sede por sensações intensas e de uma intolerância com o silêncio e com a lentidão, com o que comporta dúvidas, incertezas e vulnerabilidades, como se o conforto 220 w fosse o ideal médio.

A 18º Mostra de Cinema de Tiradentes, em janeiro de 2015, resiste a esse momento de ênfases, mais que de sutilezas, e coloca essa contingência, inevitável antes de positiva ou negativa, em relação ao perfil de nossa programação: o de um cinema na qual a autoralidade dos criadores passa distante dos sensacionalismos estéticos.

São 18 anos de vida e oito anos de Mostra Aurora. Temos visto nos últimos anos, na Mostra Aurora e em outros segmentos da programação, filmes instigantes e desafiadores, baratos, precários enquanto estrutura de existência, mas com senso de provocação, deslocamento dos sentidos e das sensações, de culto do enigma e do estranhamento.

Qual o lugar nesse cenário atual de um cinema autoral jovem ou experiente, mas exigente, muitas vezes sutil, ambíguo em outras, torto e tortuoso ocasionalmente, quase sempre necessitado de concentração, de um ritual da atenção e da entrega, de um empenho da observação do espectador?

Quais os desafios de se procurar lidar com certas zonas da sensibilidade em um momento de tantas telas, câmeras, cortes, barulhos e toda sorte de estímulos intensos, dispersantes e expandidos?

A parte mais industrial do cinema sem grandes shows de tecnologia está cada vez mais televisiva em suas características, a ponto de muitos considerarem as séries televisivas mais cinematográficas, talvez sem haver clareza nessas generalizações abstratas sobre quais essas características cinematográficas e televisivas. Porque parece evidente, presente nas evidências nas telas, que o cinema televisionou-se, amplamente, e não o contrário, como se vê nos dramas à Hollywood ou comédias à Globo Filmes.

Mas quais filmes precisam mais do cinema e quais poderiam estrear em telas menores e dispositivos menos ritualizados sem prejuízo?

O cinema blockbuster em 3D, certamente é dependente das salas de cinema, cada vez mais necessitadas de melhorias tecnológicas.

O cinema de autor exigente também depende de condições ritualísticas, do silêncio, da experiência integral dos filmes, de um certo modo de manter o corpo na cadeira (onde nãos e deita), da patrulha ao sono, da concentração para detalhes e para a recusa de algumas informações e de algumas facilidades formais.

No entanto, como se sabe, conforme aumentam as exigências em relação à atenção do espectador para um cinema mais ambicioso em sua forma, quanto mais os filmes dependem das condições de cinema, menos as salas de cinema abrem suas portas.

O cinema autoral exigente, portanto, lida com falta de espaço e de atenção, com pouca tela e um espectador ansioso, distraído, que não suporta certas demandas. Suas próprias formas contemporâneas de narratividade e de dramaturgia, às vezes elas mesmas dispersas e dispersantes em suas formas de ordenação, tornam-se ainda mais resistentes quando vistas no computador ou na televisão, sem as condições ritualísticas.

É evidente que sempre há, e haverá, a resistência da percepção, uma quantidade de espectadores a ser levada em consideração, os resistências do cinema e pelo cinema, mas, no Brasil, em um momento de política de editais variados, com algum nível de expectativa de retorno simbólico ou financeiro no trânsito por diferentes telas, essas questões estéticas se colocam.

Não há respostas fáceis, sequer bandeiras vistosas. Há uma complexidade ramificação e ao mesmo tempo segmentação de telas e de estilos cine-audiovisuais, com relações muito distintas com o espectador, com exigências ou contemplações também muito distantes na relação com o espectador, com telas mais ou menos potentes para a experiência com as obras e com os produtos.

Nessa ampliação e dispersão simultâneas, o cinema autoral exigente sobreviverá de que forma a um televisionamento e a uma “internetização” generalizantes e transformadores de estilos, percepções e de olhares?

Como as pequenas produtoras de filmes autorais se comportarão com as mudanças de ventos dos investimentos em séries de televisão por conta da lei do cabo?

De que forma o aumento de produção de filmes nesse segmento mais independente é sinal evidente de seu estado de saúde ou é um sinal também evidente de um universo no qual o acúmulo de imagens e narrativas não encontram modos de circulação suficientes? O que é suficiente em matéria de circulação?

As escolas de cinema, hoje de audiovisual, agem em que direção? Preparam seus estudantes para que estéticas, estilos, telas e modos de percepção? Há uma homogeneização dos estilos e das telas, por quem cria e por quem assiste, sem se levar em consideração as especificidades?

O cinema sempre vivenciou transformações, influências, hibridizações e, de certa forma, essa é a forma de sua vitalidade e perseverança. No entanto, se o cinema sempre resiste, sempre permanece, sempre modifica, no atual momento, vive uma condição expandida, da tela maior para as outras menores, mas também uma condição implodida, com as telas maiores cada vez mais disputadas, com menor importância na vida do espectador conectado e, proporcionalmente, em menor número para as propostas mais exigentes.

A 18ª Mostra de Tiradentes, no ano de sua maioridade, coloca a questão de modo frontal, sem ter expectativas de respostas fáceis, únicas, consensuais e fechadas, mas com aposta na capacidade de reflexão.

Exposições na Mostra:

Exposição Cinema Brasileiro Contemporâneo

Inspirada no conceito da 18ª edição da Mostra Tiradentes, a exposição é uma instalação em painéis fotográficos que visam interagir, informar e apresentar a programação de longas e respectivas mostras temáticas e a homenageada desta edição.

Exposição Mostra Homenagem

A exposição é uma instalação em painéis fotográficos que apresentam momentos marcantes da carreira da homenageada desta edição, a atriz paraense Dira Paes.

Exposição Histórias Pra Contar

 A Praça Principal de Tiradentes recebe a instalação de painéis que apresentam 15 personagens que se destacam na vida, na rotina e na história da cidade de Tiradentes.

Programação completa de filmes, palestras, oficinas, seminários, Mostrinha de Cinema voltada para o público infantil, tudo no site da Mostra.

A Mostra de Cinema de Tiradentes é produzida pela Universo Produção.